Assim como Assis não seria o mesmo sem Washington e Zico não seria o mesmo sem Júnior em campo, o debate da band mostrou o óbvio: faltou à esquerda neste ano o contrapeso e contraponto nos debates. O que parece ter transparecido: independente do que apareceu, as forças a direita já venceram esta eleição.
A esquerda se enterrou em um projeto único, embora tenhamos candidatos que se puseram na disputa, estes não passarão de 1%, pois a concentração está no projeto de poder do PT. Um projeto cuja contradição habita no fato de que: materialmente é a continuidade do sistema neo-liberal, cuja representação do acordo está no vice: Geraldo Alckimin, porém simbolicamente tem que se apresentar com a tinta de esquerda.
O debate mostrou a fragilidade da unidade personalista, enquanto a direita mostra seus mil tons e dá a oportunidade de seus eleitores escolherem o melhor gestor do pacote, a esquerda perdeu inclusive a possibilidade de dialogar sobre os temas mais delicados às pautas. Não tivemos um candidato falando de reformas estruturantes, de fim de teto de gastos, de recuperação dos direitos trabalhistas perdidos. Lula fala de dar MEI para entregadores quando deveria falar de dar emprego que os tire da precaridade.
Ciro, apresenta de forma muito tímida seu projeto de nação, fala em escolas sem falar no projeto de educação verdadeiramente emancipador, porém remete sempre ao povo que leia o seu projeto (o que sabemos que não acontecerá rs). Tebet tenta se posicionar como uma novidade, embora venha carregada pelo MDB, esta máquina de fisiologismo. Soraia e Dávilla parecem perdidos. Ainda assim, estes nomes: dávilla, tebet, soraia, pautaram e deram o tom do debate ao amplificar muitas vertentes de uma lógica liberal contemporânea de pensamento.
Ciro tentou debater o modelo de nação que temos, questionando o sistema político do Brasil que basicamente conforma o terreno para a corrupção como ferramenta de governabilidade. Cita o desenvolvimentismo, mas não explica bem o que significa e que diferenças tem do modelo atual e se foca muito na pauta de resolver a vida dos endividados, o que é super possível de fazer, porém é uma ação pontual dentro da proposta ampla de governo que nós esperamos conhecer.
Lula estrategicamente se focou em falar das benesses de seu governo, porém tropeçou quanto ao questionamento sobre o que será um Lula 2023? Ao invés de apresentar a proposta de saída retoma o básico: eu fiz isso eu fiz aquilo. Para o povo em geral, em especial quem acompanha debate, isso pouco significa pois todos sabemos que 2023 não é 2003, tem uma geração inteira na vida adulta que sequer viu FHC ser presidente.
A ausência de outras vozes de esquerda foi notória demais para o próprio campo que agora está se questionando. Este é o projeto, a escolha equivocada de movimentos e partidos de esquerda que decidiram por se apequenar nesta eleição e que agora reclamam inclusive do crescimento do neoestalinismo, que se apresenta como alternativa crítica pelo viés da esquerda. Claro que foi tático da emissora não convidar Leonardo Péricles (UP), Vera Lúcia (PSTU) e Sofia Manzano (PCB), sabemos que é de praxe. Isso levou o debate a transparecer, para o povão, como sendo: o Partido Novo ocupando o lugar que até então era do PSOL, levando assim a discussão para o espectro mais liberalizante possível.
O debate mostrou o interesse de três projetos de Brasil: um projeto neo-liberal que mantém o sistema pelo viés financeiro com base no agronegócio e outras comodities, isso é muito representado pelo Lula/Alckimin, Bolsonaro, e talvez Tebet, um sistema neo-desenvolvimentista que Ciro trouxe mas não explicou bem e um sistema utópico super liberal trazido por Soraia e Dávilla.
Ainda em tempo, curioso notar como o projeto de Dávilla e Soraia é antiquado, nem os capitalistas defendem isso a vera pois já sabem que é muito mais interessante ter o aporte robusto do Estado a seu favor e gerenciar apenas os lucros do negócio. Essa é uma das premissas de existência das parcerias PPP e é justamente para isso que o agro faz bancada e lava dinheiro com eventos de entretenimento.
Vangloriar o agronegócio como força motriz do Brasil é um equívoco, pois ele só está neste patamar porque somos um país sem desenvolvimento industrial nacional desde que o Plano Real foi aplicado. O povo passa fome enquanto produz alimento industrializado por aí. A gente (quem pode pagar) bebe soro químico embalado como leite a preços exorbitantes e entramos num ciclo vicioso que só está trazendo mais desemprego e fome.
O que vivenciamos foi um debate muito despolitizado, cujos temas mais necessários ao povo não foram sequer tocados, um show de horrores de pessoas que estão distanciadas demais do povo mais pobre. O Brasil seguirá na incógnita e isso nos obriga a trabalhar mais firme em pró de saídas que não estão tão dadas assim.
