Nossa terra tem palmeiras onde canta o sabiá, já dizia o poeta, embora a sabiá que mais ouvi cantar nasceu fruto de uma jaqueira em Oswaldo Cruz bem pertinho de Madureira. São muitas as árvores da nossa vida, assim como são os sabiás que por aí avoam, bem como muitas são nossas bandeiras. Cresci sob a sombra de uma amendoeira que infelizmente a civilização torpe assassinou, toco tambor sob a benção da Tamarineira que um cacique um dia plantou.
Minha bandeira não é vermelha ou verde e amarela, esse país do medo cansou. Minha bandeira é verde e amarela, mas também é vermelha sangue, mas também é azul e branca, verde-branco e grená, branco e vermelho era a bandeira de meu avô e trago também no coração, como bom neto de Bangu que sou. Não me interessa mais a política dos corpos tristes e amedrontados, o Brasil é maior que isso e sinto muito os amantes do passado, o Brasil não cabe em uma bandeira só. Sâo tantas as bandeiras que me dariam esperança em um mundo novo, que seria impossível fazer cabê-las aqui.
Quero ver caminhando comigo aqueles que estão felizes por ganhar uma copa latino americana flamulando suas bandeiras preto e vermelhas, quero ver pular de alegria os cruz maltinos por saírem do sufoco, e que brilhe a estrela solitária assim como terá de brilhar a estrela vermelha em favor do povo. Aos que estão com medo, aos que estão com raiva, não me levem a mal, mas não dá pra enjaular o universo de dores e alegrias que somos dentro de suas caixas pré-montadas que já não respondem a realidade da humanidade.
O Brasil ameríndio, negro, favelado, macumbeiro nunca coube nos comerciais de margarina, nunca tomou o café da manhã da Xuxa e nunca teve a cozinha da Ana Maria Braga. Somos uma espécie de Macunaímas subversivos. Foi esse Brasil que ficou sem vacina a tempo, que morreu e que deu um não ao projeto de poder de vocês. Esse Brasil que são muitos Brasis emaranhados não escolheu o Lula por que o idolatra, mas o escolheu principalmente pra dizer um não a vocês. Esse projeto de poder antiquado, que funciona na base do encarceramento, do terror, de enquadrar e enjaular. O povo sofrido já sabe como lidar com o bico do fuzil (infelizmente) e não vai cair nesse terror barato, podem armar o alçapão a vontade.
E nessa terra que, além de Palmeiras, tem Corinthians que abre os caminhos na paulada, vocês ainda tem muito o que aprender com os povos originários, a começar que a vida dos sabiás não cabem numa gaiola. Não fomos feitos para ficarmos nas suas jaulas, mas para voar livres.
A principio, sigo a plantar as sementes nessa tentativa de construir um universo tão plural e diverso onde posso ver livres e felizes todos sabiás, curiós e uirapurus. Aos que se acham os representantes da verdade, da pátria e de Deus, aos que se acham capazes de reduzir o Brasil a duas cores, sinto muito desapontá-los porém, são infinitas as cores que compõem os sonhos do nosso País.
E no mundo onde livre cantarão os sabiás, deixo um recado da sabiá que encantou os filhos da jaqueira:
“Não temo quebrantos
Porque eu sou guerreira
Dentro do samba eu nasci
Me criei, me converti
E ninguém vai tombar a minha bandeira”.
