Em 2022, o ano em que celebramos os 30 anos da Eco 92 precisamos de mais avanços nas construções. A real é que, a pandemia que ainda nos assola colocou na cara do gol as limitações da organização do capital: a incapacidade de colocar a vida na centralidade das políticas.
Estima-se que a falta de políticas sérias por parte de diversos formuladores mundo a fora pode ter afetado os principais índices de levantamento. Atualmente já se pondera que o número total de vítimas mundo a fora seja três vezes maior do que o declarado, muito devido a subnotificação e falta de testes.
No Brasil, o Bolsonarismo representou a narrativa máxima da organização deste capital, declarações como “A economia não pode parar” não foi um eco solitário e estranho em meio a crise global, possivelmente tenha sido apenas a versão mais autêntica e radical do pensamento e modelo vigente. É preciso termos isso em mente: A economia do mundo como conhecemos não parou ou se reformulou. Ela seguiu os rumos e nadou na busca de manter firme as suas estratégias de acumulo de poder e capital.
Enquanto o Brasil passava a boiada quase sem enfrentamento popular, pois por uma escolha política da militância organizada o Bolsonarismo seria disputado nas urnas, países em conflito se mantinham reféns de suas guerras. Os sistemas de pesquisa de vacinas e fármacos alinhados aos modelos de pesquisa do capital, onde se disputam os direitos autorais e de copyright, mesmo tendo sido mais rápidos que outrora, se travavam em burocracias e disputas das mais diversas. Enquanto nosso povo morria o agronegócio (base estratégica da economia brasileira hoje devido a equivocada política) fazia fortunas em giro de dinheiro com artistas de sertanejo. Mesmo mobilizações globais em defesa da pandemia se tornavam ferramentas de captação de recursos para determinados grupos. O mercado de luxo seguiu faturando enquanto populações sofriam. A morte inclusive é um meio de se fazer dinheiro, se assim não fosse não teríamos tantas guerras. Ironicamente um Trump cai com seu utraconservadorismo ao mesmo tempo em que se orgulha de não ter iniciado novas guerras. Graças ao mundo que não parou mas fingiu parar, hoje tanto a economia quanto a vida definham.
Faltou ao mundo a coragem de parar a roda da fortuna, reorganizar o sentido da vida social e recomeçar. O resultado é que o projeto ruiu, não resistiu, primeiro, começou a cair o radicalismo da direita e agora seguem balançando quaisquer representações que tentem manter este modelo sem discutir com seriedade uma saída global a crise instituída.
Em meio a esta crise o povo segue em desespero diante da falta de perspectiva, nada mais assusta ou acalma. Sem projetos globais convincentes, sem rompermos com o modelo presente de exploração de pessoas, de vidas em geral e de recursos, não vamos avançar. Seguiremos cavando os torpes caminhos de nossa extinção em massa. Neste processo que inclusive expõe a própria injustiça global, visto que nem na extinção encontramos os caminhos de igualdade: os mais pobres seguirão sendo eliminados primeiro.
A desesperança e o atual niilismo se dá devido termos uma sociedade que busca ansiosamente uma saída disso tudo e não encontra. Muitos deram um voto de confiança a uma fuga pelo ultraconservadorismo e ainda estão perdidas ao perceber que este também é parte do mesmo stablishment que tanto criticam e nos faz mal. Construir um mundo novo ainda é possível, porém cada vez mais difícil pois ele não será traçado por dentro das estruturas que estão consolidadas, mas também não creio que sobrevivam apenas por fora destas estruturas.
Precisamos disputar a base do globo, construir novas ferramentas e formas de pensar coletivamente e criar as barreiras necessárias para não sermos sufocados. Essa é a encruzilhada atual, não será simples ou agradável passar por ela, pode significar um enfrentamento em que não vejamos a linha final, um corre em que estaremos solitários quase como loucos isolados escrevendo nas pilastras do viaduto sobre mensagens de amor.
Mas será no corre simples, nas conversas de rua, nas atividades comunitárias que organizamos, nos papos de organização e na organização propriamente dita. a saída vai exigir uma linha singela de construção permanente de novas redes de sociabilidade. O duro é que para dar certo precisaremos nós mesmos, nós por nós criar as válvulas de escape da economia, fugindo de todas as teias que podem nos aprisionar a um determinado poder limitante dentro do sistema.
