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O LUGAR DO IMPERADOR: Adriano e o Complexo

As recentes declarações do Jogador Adriano nos faz pensar sobre um dos principais conceitos da arquitetura e da vida: O lugar.

Quando o jogador de milhões, no auge da sua carreira retorna ao Brasil e, principalmente, ao seu bairro, sua favela ou seu complexo como queiram chamar, o jogador vira alvo de uma campanha alvoroçada e constante. Não era raro ver as mídias associarem o retorno do jogador a uma decadência moral do tipo, está cercado de bandidos, associou-se ao tráfico, etc. Discurso este que caia no senso comum, Adriano era visto como aquele que teve todas as oportunidades e jogou fora.

A real é: o que o sistema realmente não tolerou foi a quebra do modelo de sucesso que ele vende. O retorno de um jogador, um artista um ídolo ao seu lugar de origem se torna perigoso a medida em que o discurso oficial precisa convencer que o seu lugar é \”errado\”. O que se espera de um jogador pobre que sai da favela ainda jovem e vai viver na Europa? Espera-se qualquer coisa, menos que ele retorne ao seu lugar pobre.

A escolha de Adriano é impensável para um sistema que alimenta diuturnamente que a favela é um território que não deveria existir, ou que é território onde todos são potenciais bandidos, onde todos são passíveis de seu chacinados. Importante entender: O que espanta a sociedade não é o alcoolismo puro e simples, mas o fato de o jogador beber no seu lugar. Para assinalamos mais um elemento, a degradação do sentido de lugar é importante para a manutenção da ausência de políticas públicas. Nós lutamos pelo que nos afeta. Aceitamos condições mais precárias pois criamos o hábito de que o nosso lugar não deveria existir ou ser melhor.

Este hábito construído em um cotidiano cheio de significação ajuda por exemplo a definir o valor da terra ou também a diferenciar o lugar do rico do lugar do pobre. O que se espera de um jovem pobre latino-americano ou africano que tenta a sorte no futebol e vence na vida? Se estabelecer em um lugar de rico ou classe média alta que seja. Da mesma forma, não se espera um processo de ruptura onde valor de uso se torne mais importante que o valor de troca.

Imagine como ficaria difícil para o estado dar tiro a esmo correndo o risco de matar um Adriano? O que incomoda no Adriano, também incomoda no baile da gaiola, ambos expõem que o mundo real é maior do que a propaganda e que o Complexo é um lugar de pertencimento como qualquer outro, e deveria ter o mesmo tratamento social, econômico, espacial que qualquer outro canto. Incomoda que a pessoa que alcançou fama e fortuna e com isso a liberdade de escolher onde quer ir e vir no mundo capitalista escolhe estar de volta no seu bairro. Ofende um sistema classista e racista quando estas coisas acontecem,

O que o jogador fez foi o básico do que faz a humanidade. Em momentos de depressão e falta de sentido pra si, busca sua base de apoio, seu espaço afetivo, seu território de pertencimento, isto é, busca o seu lugar. E neste momento, o Complexo se torna melhor que Milão, e isso não é problema nenhum. Falar do Lugar é falar disso.

Adriano vence na vida quando decide buscar sua essência (palavra dele) e o seu lugar que definitivamente não é Milão.

O mais interessante do conceito de lugar é isso, não precisamos buscar em literaturas, teorias científicas o seu entendimento, basta a gente olhar para o que nos afeta, pra estes espaços com o qual temos carinho e felicidade. Este é nosso lugar. 

 

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