
Hoje, dia 7 de abril comemora-se o dia mundial da saúde. Enfrentamos neste dia nosso maior desafio em muitos séculos, o combate a um vírus super transmissível e que é fatal. Em meio a crise global, outra nacional nos assola. O distanciamento social que temos que manter mediante isolamento é transpassado pelo distanciamento econômico que a segregação urbana nos permitiu.
Podemos e devemos citar outros casos recentes como o Cais Estelita Demolido e reprogramado pelo Consórcio Novo Recife, formado por Ara Empreendimentos, GL Empreendimentos, Moura Dubeux Eng. e Queiroz Galvão, ou também Belo Monte, talvez a maior obra deste setor político-construtivo envolvendo a robustez de grandes construtoras.
O Brasil vê na construção civil a capacidade de movimentar uma economia de massa graças a canteiros de obras onde a segregação social se mantém mas permite o mínimo de capital de giro na sociedade (pense no salário do servente, do serralheiro, do carpinteiro, etc) e de movimentar grandes estruturas econômicas que mantém constantemente ativas pelo lobby. Somado a isso constroem cidades a partir de plugs de tecnologias e produtos que caem de forma invertida no território. Fica a questão, foi o Complexo do Alemão que pediu um teleférico ou foi o teleférico que precisaria ser instalado em algum lugar para sair bonito na foto do Rio Olímpico? E o que sobra aos ativistas, se não as migalhas?
O enfrentamento da cidade segregada passará pelas encruzilhadas da sociedade como um todo, precisará considerar e consolidar as vozes mais diversas e não apenas as organizadas de que forma estejam. O primeiro passo para enfrentar a situação é admitir que construímos cidades segregadas, e que mesmo alguns poderes que se ventem como progressistas construíram cidades segregadas. A segregação espacial dos pobres é o paradigma de manutenção do sistema e destas formas de cidades.
A partir deste ponto, precisamos demolir da pauta o sistema lobista de construção de cidades, buscar melhores relações de usos de seus espaços, produzir educação de cidadania e integração de relações e redes de sociabilidade. O trabalho na escala orgânica da vizinhança é mais que narrativa, ele ocorre no dia a dia, cade a nós dar ouvidos a este trabalho, explodir para fora de nossas bolhas, partidárias, aparelhos e ações grupescas ou categorizantes e ouvir do outro cidadão comum.
Outro ponto, é importante emancipar o cidadão, seja pela saúde, pelo conhecimento, pelo direito à cidade entre outros e deixemos que o cidadão construa seus caminhos, inclusive de organização da vida e de sua espacialidade. Primeiro precisamos universalizar e emancipar o saber e a saúde, para só depois começarmos a ver como as formas de organização e sociabilidade funcionam, Provavelmente nenhuma associação de moradores, grupo de minoria, coletivo cultural, partido político vai ter mais velocidade e capilaridade que o discurso de uma vizinha faladeira.
O Brasil de hoje é em muito a cara disso: Por um lado movimentos organizados aplaudem o grafite como resistência enquanto as Odebrechts da vida construíam Belo Monte e Portos Maravilhas de braços dados com quem quer que seja.Por outro lado o fascismo foi capturando a indignação dos mais pobres que não conseguiam lavar as mãos com teleférico e nem se alimentar com tinta de grafite.
As maiores derrotas na concepção de cidades ficam estampadas em algumas pautas. Quando perguntamos que cidade queremos, ou quando levantamos bandeiras do tipo: A cidade é para as pessoas. Fora o pior de todos, as soluções mágicas tipo Rasputin: teleféricos e VLTs que saem da cartola. Estamos assumindo o quão distante ficamos desse debate e da construção emancipatória das cidades e o como ainda estamos presos na visão de mundo de que há um modelo ideal de cidade a ser alcançado. As cidades que traçamos estão sempre o campo do Amanhã, quase aptas a serem artefatos do Museu do Calatrava. Não estamos na caverna de Platão, estamos na cidade real e ela é segregada, abandonada e usurpada por inúmeras esferas de poder, muitas das vezes com nossa ajuda inocente ou não.
Perfeito. Visceral.Não deveríamos precisar de pandemia para fazermos essas reflexões.
Parabéns cara!